Curvas



“Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
(Drummond)
Outro dia no metrô lendo a antologia poética de Drummond me deparei com o Poema de Sete Faces, fiquei relendo o verso ‘Vai, Carlos! Ser gauche na vida’ por quase toda a viagem. Relendo talvez porque o verso faça todo sentido pra mim, relendo talvez porque mais cedo ou mais tarde, a gente querendo ou não, somos gauche, esquerdos, tortos como diz a definição do verbete.
Minha vida sempre foi meio gauche, sempre preferi o que não era modismo, nunca fui a popular no colégio, nunca tive a pretensão de ser a ‘Rainha do Baile’, me contentava em ser antagonista da história. Mas a bem da verdade, existe certa vantagem em estar do outro lado, meio deslocado de tudo, fora do foco, outside. É bom ver como a engrenagem funciona, é bom reparar de outro ponto de vista, é interessante analisar sob outra ótica, mesmo um pouco distorcida. Ver tudo de outra forma, reparar as sete, oito, nove, infinitas faces do que a gente presume ser a nossa jornada pessoal.  É não querer o caminho reto, é escolher as lombadas, os morros, os terrenos montanhosos. É o vasto mundo, redondo e curvilíneo.
Desci do trem e resolvi fazer outro caminho até o trabalho. Pegar outra rua, tomar café em outro lugar, entrar pela outra portaria. Vai, Bailarina! Ser gauche na vida, como Drummond. Às vezes me faz bem essa vida torta, sem um rumo definido, só mesmo pela surpresa do que vou encontrar ao entrar na próxima curva.
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Trilha Sonora:

Seta e o Alvo (Moska_Moska)

"Então me diz qual é a graça, de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada..."

Comentários

muito de mim disse…
E é bem ai que está toda a graça da vida, ser diferente, não saber o que vai se encontrar na proxima curva da vida, surpresas,mesmo que sejam ruins são boas, pq nos tiram da mesmice.
Saudades

bjus

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