Teu, Fulano




"A melhor maneira de ser feliz com alguém é aprender a ser feliz sozinho. Daí a companhia será questão de escolha, não de necessidade." 
(Jô Soares)


Meu ex-namorado tinha o costume de assinar emails, mensagens e afins enviados a mim com os dizeres: 'Teu, Fulano'. A verdade é que ele sempre precisou ser de alguém para se manter emocionalmente estável. Nos oito anos em que o conheço, juntando o período que fomos just friends, o vi emendar um namoro no outro, mas não se emendava em aprender a viver sozinho. No fim das contas, percebi que ele simplesmente não conseguia ser só dele mesmo.

Posso bater no peito e dizer: fico sozinha sem surtar. Sou da política do 'antes só, que mal acompanhada'. Nunca emendei um relacionamento no outro, sempre me dou o dever de fazer como o proprietário de uma casa que acabou de ser deixada por seu antigo inquilino: faço uma vistoria, vejo o que está estragado, o que precisa ser arrumado, vez por outra troco portas, janelas, o piso e ajusto alguma maçaneta frouxa, pinto as paredes e aproveito para escancarar as entradas e deixar o ar circular, renovando tudo ao seu redor. Meu coração precisa desse tempo para aprender com os erros – meus e alheios – e, sobretudo, para aprender mais sobre ele mesmo.

Tem gente que tem medo de ficar sozinha. Meu ex-namorado foi só um exemplo latente, dentre muitos que a gente conhece por aí. Tem gente que precisa do outro como muleta, pra se escorar, pra dar algum sentido à sua existência. Muitas vezes julga egoísmo pensar em si mesmo e conseguir viver só. E num grande paradoxo existencial: gente assim acaba sozinha no fim da vida. Sozinha porque não soube fazer laços e preferiu os nós, sozinha porque nem sua própria consciência é capaz de lhe fazer companhia, sozinha porque não se conhece, sozinha porque não sabe se dar, sozinha porque simplesmente não sabe receber.

Nunca tive medo de ficar sozinha. Tenho medo sim, mas de não conseguir me olhar no espelho e enfrentar a mim mesma e a mulher que tenho me tornado. Essa tão diferente da adolescente tímida que vivia dentro da biblioteca do colégio, numa idade onde tudo o que a gente quer é um buraco pra se enfiar. Foi nessa fase que eu aprendi que se não aceitasse a solidão como amiga, nunca aceitaria a companhia como dádiva. Foi nessa fase também que aprendi que não é com quem eu estou que importa, o importante mesmo é quem eu sou. E mais, aprendi que não posso ser de ninguém, porque não nos temos de fato, que estamos em uma existência e que fazemos parte de um grande todo que não pertence à nós, nem a ninguém, apenas ao universo que conspira à favor de quem vive bem consigo mesmo. 



Comentários

Anônimo disse…
Discordo. A história é outra, as generalizações são injustas, e a assinatura era um pertencimento mesmo.

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