Home Office
(Leia ao som de Capitão da Indústria, do Paralamas)
Antigamente achava que home
office seria uma boa, que não gostaria de trabalhar de casa, sem tem de
enfrentar trânsito, um ou dois dias na semana? Na verdade, até acredito que
seja, mas nas circunstâncias de distanciamento social, a única coisa que vi com
o home office é que logo estaria
cansada de todos os cômodos do meu apartamento e faria falta o habitual
burburinho do escritório.
Tenho sentido uma falta absurda de ir pro trabalho, de me
arrumar correndo, da minha mesa, da minha cadeira, da voltinha pela Savassi na
hora do almoço, das pessoas com quem eu convivo por lá. Não que eu seja a mais
extrovertida da empresa, meu trabalho exige de mim atenção focada e, por vezes,
eu estou de fone, ou abafador, já que trabalho numa sala com mais 7 pessoas,
mas até a conversa descontraída no meio do expediente tem feito falta à minha
rotina.
Veja bem, eu adoro minha casa, ela foi pensada pra mim, tá
certo que o sofá da sala de estar e a mesa de jantar ainda não chegaram e
certamente atrasarão, é meu cantinho no mundo, mas não quer dizer que eu queria
estar o tempo todo nele, trancada, impedida por um vírus (e pelo bom senso e
amor ao próximo) de sair. Talvez, por isso, eu esteja sentindo ainda mais falta
do trabalho, pra dar sentido a volta pra casa, pra volta ao espaço onde eu sou
dona e senhora. Talvez também, por isso, eu esteja sentindo ainda mais falta do
trabalho, porque lá eu sou dona e senhora dos meus relatórios, processos e
indicadores.
Dizem que a gente aprende a dar valor às coisas quando estas
nos são cerceadas, a verdade é que eu sempre dei valor ao meu trabalho, também
sempre dei valor à minha casa e, portanto, essas coisas são inestimáveis pra
mim, as incertezas de tempos intempestivos só trazem à tona um sentimento de
que, mais que nunca, a gente reconhece o que nos é caro, estando eles cerceados
ou não.
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