O tempo que antecipa os fins...

(Leia ao som de "Novamente", do Fred Martins)

Fiz uma lista mental de tudo que era meu e precisava pegar.. Quase oito anos e meio transitando entre duas casas - acostumei a comprar tudo duplicado, assim não precisava ficar no leva e traz. Listadas foram só as coisas físicas, as emocionais, a gente sabe, não tem como pegar de volta. Elas se vão, desfeitas, assim como o relacionamento que se esvai, entre as palavras que precisavam ser ditas e tudo o que um fim traz. 

O último término antes desse certamente doeu mais. A gente vai ficando calejado em fechar ciclos. Mas não dá pra falar que não dói essa sensação estranha de, de repente, você voltar a ser o que sempre foi: avulso. E quando as pessoas, aquelas sempre mais sem noção, soltam um: cadê fulano? Como se fulano fosse um gêmeo siamês, unido desde o nascimento e apartado de você à força pelo fim do amor, a resposta é a cara que condena o inegável fato que o apego traz - não tem mais fulano. Enquanto isso, os olhares dos recaem carregados daquela dó ridícula...Agora tá só. Minha vontade é de gritar: alto lá, só eu sempre fui.

O tempo que antecipa o fim, também desata os nós, tem uma música que fala isso. Ela ainda completa, é que nem sempre o amor é tão azul. Não, não é, nunca foi, acho. Se bobear, nunca será, e se aprende a conviver com isso a cada fim, antecipado ou não; a cada nó desatado e que certamente, um dia, se atará novamente; a cada confronto beligerante das nossas urgências e traumas nas incansáveis sessões de terapia. E o tempo, esse mesmo que antecipou, traz a fluidez da vida, resignifica o amor, faz com que a a gente siga em frente, docilmente, no colo maternal da solitude. 

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Postscriptum:

"Viver é um rasgar-se e remendar-se" (GR)


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